20 de outubro de 2014

Câncer, e aí?

EU DESCOBRI. EU CONVIVO. EU ENFRENTO!


A primeira noite após a descoberta do tumor foi bem difícil, mas isso é normal, não tem como afastar o medo sem você conhecer todas as possibilidades de tratamento.

Na manhã seguinte, passado o primeiro susto, fui fazer o encaminhamento dos exames e dar início ao ciclo de consultas. De imediato, pediram para que eu fizesse a terapia com radiação, também chamada de radioterapia.

Meu oncologista, junto com minha mastologista, explicou como seria todo o processo. Confesso que me enchi de medo e incertezas, mas minha vontade de vencer era e é maior que toda a luta que viria e vem adiante.


A radioterapia é usada para lesar as células cancerosas e deter seu crescimento, através de raios de alta energia, podendo reduzir o risco de reincidência do câncer de mama em 70%.

Iniciamos o tratamento na mesma semana, com uma marcação de tinta feita sobre a pele, para orientar a radiação, que deve ser sempre no mesmo local. O que também faz com que você tenha que deitar imóvel, e de maneira que a aplicação seja igual a anterior sempre.

Às vezes tenho náuseas e vômitos, me sinto cansada, com muito, muiiiiito sono e também perdi um pouco do paladar.

Quanto à pele, está um pouco avermelhada e seca onde recebo os raios, mas não mudou muita coisa. Venho passando uma pomada chamada radioplex, acho que está ajudando e espero que continue. Porque fiquei muito assustada com alguns casos de radioterapia em que a pele fica seca demais e cria uma casca, como se tivesse sido exposta a um sol de 40°c. A área atingida pela radiação fica em carne viva. É realmente apavorante, por isso, estou me cuidando ao máximo.

Não sei se é exatamente pelo tratamento ou pelo psicológico em si, mas tem dias em que meu humor está péssimo, não tenho paciência com nada e ninguém. Só choro.

Não quero assustar meus familiares e amigos, sem falar que ninguém gosta de pessoas só enxergam seu próprio problema, sem se importar com os outros. Mantenho-me muito firme desde o início, muitas vezes meus amigos pedem para conversar, evito, porque sei que algumas lágrimas vão rolar e eles tentarão me consolar, é compreensível, mas não é isso que quero.

Pedro, meu psicólogo, tem me ajudado muito a lidar com os nervos que afloram à pele, consegue me tranquilizar e me ensinar a conduzir a relação com as pessoas que me rodeiam, em principal, meu marido, qual necessito de uma dose extra de compreensão.

Ele foi a pior pessoa em todo meu meio de convívio até agora, de início ignorou profundamente o diagnóstico e não soube e ainda não sabe lidar com tudo isso. Fez de conta que nada mudou, é como se a vida estivesse seguindo normalmente. Acha que é um tratamento como qualquer outro, que não é necessário maior atenção.

Acho que foi por esse motivo que aceitei a ajuda psicológica, para eu poder entender o que passava na cabeça dele e colocar a minha no lugar. Num primeiro instante você até pensa que a pessoa não te ama, porque que tipo de amor é esse que se afasta da mulher quando ela mais precisa, mas chora escondido. Como por exemplo, certa noite acordei para ir ao banheiro e lá estava ele aos prantos, quando o vi chorando, apenas fingi que estava me mexendo e virei para o lado, porque eu também não sabia lidar com nada daquilo.

Eu estou sempre no limite da sensibilidade, choro com facilidade, mas tenho imensa NECESSIDADE de alegria. E ele por vezes, não sabe compreender que um gesto de carinho nesse momento pode ser muito importante. Embora eu consiga entender que ele tem tanto medo quanto eu, às vezes é difícil conviver com seu apoio as avessas.

E apesar de todo esse embaraço conjugal, os últimos anos só nos trazem aprovações. Primeiro meu parto complicadíssimo, minha hemorragia pós-parto, a ida de nosso filho para a UTI por longos dias, depois novamente um problema com o bebê e mais 47 dias de internação e agora o câncer. Todas essas coisas ruins reforçaram nossos laços de amor e carinho, tornando nossa relação cada vez mais sólida e nos mostrando o quanto nos amamos e lutamos pela vida um do outro.

Não tenho dúvidas que quando ele me abraça e fica ali por longos minutos em silêncio, está gritando ao mundo o quanto me ama, o quanto me quer, apenas tem medo de que eu saiba o tamanho do seu sofrimento diante da possibilidade de não me ter mais.





Parece que tudo isso tem uma função didática, vindo para ensinar a viver. E o câncer talvez sirva, pelo menos, para promover profundas e significativas mudanças de vida, mostrando o como deveríamos olhar e ver o quanto a vida é curta, e como podemos modifica-la para nossa felicidade.

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