EU DESCOBRI. EU CONVIVO. EU ENFRENTO!
A primeira noite após a descoberta do
tumor foi bem difícil, mas isso é normal, não tem como afastar o medo sem você
conhecer todas as possibilidades de tratamento.
Na manhã seguinte, passado o primeiro
susto, fui fazer o encaminhamento dos exames e dar início ao ciclo de
consultas. De imediato, pediram para que eu fizesse a terapia com radiação,
também chamada de radioterapia.
Meu oncologista, junto com minha
mastologista, explicou como seria todo o processo. Confesso que me enchi de medo
e incertezas, mas minha vontade de vencer era e é maior que toda a luta que viria
e vem adiante.
A radioterapia é usada para lesar as
células cancerosas e deter seu crescimento, através de raios de alta energia, podendo
reduzir o risco de reincidência do câncer de mama em 70%.
Iniciamos o tratamento na mesma semana, com
uma marcação de tinta feita sobre a pele, para orientar a radiação, que deve
ser sempre no mesmo local. O que também faz com que você tenha que deitar imóvel,
e de maneira que a aplicação seja igual a anterior sempre.
Às vezes tenho náuseas e vômitos, me
sinto cansada, com muito, muiiiiito sono e também perdi um pouco do paladar.
Quanto à pele, está um pouco avermelhada
e seca onde recebo os raios, mas não mudou muita coisa. Venho passando uma pomada
chamada radioplex, acho que está ajudando e espero que continue. Porque fiquei
muito assustada com alguns casos de radioterapia em que a pele fica seca demais
e cria uma casca, como se tivesse sido exposta a um sol de 40°c. A área
atingida pela radiação fica em carne viva. É realmente apavorante, por isso,
estou me cuidando ao máximo.
Não sei se é exatamente pelo tratamento
ou pelo psicológico em si, mas tem dias em que meu humor está péssimo, não
tenho paciência com nada e ninguém. Só choro.
Não quero assustar meus familiares e
amigos, sem falar que ninguém gosta de pessoas só enxergam seu próprio problema,
sem se importar com os outros. Mantenho-me muito firme desde o início, muitas
vezes meus amigos pedem para conversar, evito, porque sei que algumas lágrimas
vão rolar e eles tentarão me consolar, é compreensível, mas não é isso que
quero.
Pedro, meu psicólogo, tem me ajudado
muito a lidar com os nervos que afloram à pele, consegue me tranquilizar e me
ensinar a conduzir a relação com as pessoas que me rodeiam, em principal, meu
marido, qual necessito de uma dose extra de compreensão.
Ele foi a pior pessoa em todo meu meio
de convívio até agora, de início ignorou profundamente o diagnóstico e não
soube e ainda não sabe lidar com tudo isso. Fez de conta que nada mudou, é como
se a vida estivesse seguindo normalmente. Acha que é um tratamento como
qualquer outro, que não é necessário maior atenção.
Acho que foi por esse motivo que aceitei
a ajuda psicológica, para eu poder entender o que passava na cabeça dele e
colocar a minha no lugar. Num primeiro instante você até pensa que a pessoa não
te ama, porque que tipo de amor é esse que se afasta da mulher quando ela mais
precisa, mas chora escondido. Como por exemplo, certa noite acordei para ir ao
banheiro e lá estava ele aos prantos, quando o vi chorando, apenas fingi que
estava me mexendo e virei para o lado, porque eu também não sabia lidar com
nada daquilo.
Eu estou sempre no limite da
sensibilidade, choro com facilidade, mas tenho imensa NECESSIDADE de alegria. E
ele por vezes, não sabe compreender que um gesto de carinho nesse momento pode
ser muito importante. Embora eu consiga entender que ele tem tanto medo quanto
eu, às vezes é difícil conviver com seu apoio as avessas.
E apesar de todo esse embaraço conjugal,
os últimos anos só nos trazem aprovações. Primeiro meu parto complicadíssimo,
minha hemorragia pós-parto, a ida de nosso filho para a UTI por longos dias,
depois novamente um problema com o bebê e mais 47 dias de internação e agora o
câncer. Todas essas coisas ruins reforçaram nossos laços de amor e carinho,
tornando nossa relação cada vez mais sólida e nos mostrando o quanto nos amamos
e lutamos pela vida um do outro.
Não tenho dúvidas que quando ele me
abraça e fica ali por longos minutos em silêncio, está gritando ao mundo o
quanto me ama, o quanto me quer, apenas tem medo de que eu saiba o tamanho do
seu sofrimento diante da possibilidade de não me ter mais.
Parece que tudo isso tem uma função didática, vindo para ensinar a viver. E o câncer talvez sirva, pelo menos, para promover profundas e significativas mudanças de vida, mostrando o como deveríamos olhar e ver o quanto a vida é curta, e como podemos modifica-la para nossa felicidade.
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